segunda-feira, 28 de junho de 2010

O horizonte da economia

O horizonte da economia

Marcus Eduardo de Oliveira (*)

Basicamente, pode-se agregar à Economia duas orientações básicas: 1) Ser funcionalista; 2) Ser dialética.
No que concerne às funções vitais (ser funcionalista), a Economia se apresenta em algumas dimensões próprias, a saber: estuda o comportamento dos homens; estuda o processo de escolhas; estuda os conflitos entre a existência de recursos limitados e o atendimento aos amplos, diversificados e ilimitados desejos das pessoas; estuda as diferentes possibilidades de produção. A função vital dessa ciência, na essência, guardadas suas sutilezas, é a de proporcionar satisfação às pessoas.
Quanto à sua orientação em ser dialética, no sentido de provocar a discussão (o diálogo), ainda que em tom laudativo ou pejorativo, as Ciências Econômicas ganha um aspecto mais interessante, pois nem sempre (ou quase nunca) há consenso entre os economistas. Não por acaso, a arte da discussão entre os economistas, em sentido geral, é um dos pontos que mais chama a atenção dos observadores. Tomemos, nesse pormenor, a discussão em torno da questão conflitante ou amistosa entre o campo econômico e o social.
Há alguns que consideram os mercados, por exemplo, como construtores do campo social. Esses enxergam que os mercados operam, sempre, de modo o patrocinar o bem comum. Outros, no entanto, entendem que os mercados são sempre gerados de crises, promovendo, por conseqüência, uma convivência conflituosa com o aspecto social.
A partir disso, uns buscam construir uma economia civil (civil economy), enquanto outros pautam a realidade econômica apenas no lado mercantil. Os que defendem o mercado como elemento de construção da harmonia, entendem que sempre há e haverá sintonia do mercado com o aspecto social. Para os que se colocam numa posição contrária, o mercado dificilmente tende a promover a experiência da sociabilidade humana dentro da vida econômica normal. Para uns, a teoria econômica está correta em ser centralizada nas mercadorias – e no mercado; para outros, a base de fundamentação técnico-teórica da economia é a vida humana, com todas as suas manifestações: trabalho, lazer, bem-estar, bem viver, consumo, produção etc.
Dentro dessas manifestações emerge uma importante pergunta: afinal, qual é o horizonte da economia? Em nosso entendimento, o horizonte da economia é um só: a construção de uma nova sociedade.
Acontece que construir uma nova sociedade significa, pormenorizadamente, promover a libertação do homem - principalmente do jugo econômico. O certo é que só há possibilidade de se construir uma nova sociedade, caso “nasça” um “novo homem”. É nesse sentido que ganha relevância ímpar a relação entre a Teologia e a Economia.
Da relação dessas ciências, que para muitos pode não fazer sentido, dois aspectos se realçam. Se entendermos que os modos de pensar da teologia e da economia se afirmam para com as questões que envolvem o viver, teremos claro que não se pode furtar dos fundamentos implícitos localizados na seara teológica e também econômica. Quais são esses fundamentos e quais os dois aspectos de maior realce dessa relação entre a Teologia e a Economia?
Ora, para se viver é necessário produzir bens e serviços. Isso cabe, estritamente, à Economia. O segundo aspecto está relacionado à pobreza – em especial à condição de ser pobre.
Não percamos de vista que a Teologia, essencialmente, faz votos de luta em defesa dos pobres. São eles – e ninguém mais – a figura de principal preocupação dos estudos teológicos. Pois bem, do lado dos estudos econômicos, entra-se numa discussão de quem (ou do quê) gera pobreza. É certo, todavia, que a pobreza não é uma condenação divina, mas, antes, está eivada de condições econômicas que decidiram por sua existência. Na essência, isso significa dizer que ninguém é pobre por opção, mas todos os que são, assim são por forças econômicas impostas.
Logo, apenas e tão somente por esses dois aspectos, a relação entre a Teologia e a Economia deve ser cada vez mais salientada.
É interessante trazer aqui, nessa discussão, uma passagem do teólogo peruano Gustavo Gutierrez quando afirma que “ser cristão hoje na América Latina é preocupar-se com o lugar onde os pobres dormirão”. De igual monta, cabe adaptar essa contextualização para o aspecto econômico e se preocupar com o que os pobres comerão – se é que terão a oportunidade de comer algo.
Nessa mesma linha de pensamento, nosso dom Hélder Câmara certa vez disse que: “Quando dou comida para os pobres [eles] me chamam de santo. Mas, quando pergunto por que os pobres não têm comida [eles] me chamam de comunista”.
Sabemos muito bem quem são “eles” a quem dom Hélder se referia. Resta apenas fazer com que [eles] não atrapalhem mais a condução da economia para a realização de seu verdadeiro horizonte: construir uma nova sociedade.
(*) Economista e professor. Articulista dos sites “O Economista”, “Portal EcoDebate” e Agência Zwela de Notícias (Angola). Os artigos desse autor em torno de questões econômicas têm sido amplamente publicados no Brasil e no exterior, com destaque em Portugal, Cabo Verde, Timor Leste e Angola.
Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br

Postado pelo Professor João Beserra da Silva

A Economia e a Vida

A Economia e a Vida
Marcus Eduardo de Oliveira (*)

Talvez o maior erro do sistema capitalista seja o fato de ter baseado a vida econômica na acumulação de capital, identifi-cando isso como sinônimo de progresso.
Nesse sentido, acumular significa, grosso modo, enfatizar o “ter”, em detrimento do “ser”. Essa é a característica emble-mática de um sistema que se assenta sobre todo e qualquer modo para se atingir essa finalidade; razão pela qual a explo-ração, em toda sua plenitude, é largamente observada na ma-neira e nos modos como esse sistema opera.
Pois bem. Ao ler o ensaísta equatoriano Eduardo Mora-Anda (A História dos Ideais), que faz consistente crítica sobre a ma-neira de proceder desse sistema, verificamos que “o capita-lismo supõe que o dinheiro é fértil e deve produzir lucros, o que é mentira, porque o dinheiro, de per si, sem trabalho, não produz nada”.
No entanto, a ciência econômica, à lá mercantilização capita-lista da vida, insiste em inverter essa situação e apregoar den-tro dos mecanismos que comandam o mercado, que dinheiro gera dinheiro, que dinheiro trás felicidade.
Conquanto, quando a economia pelas mãos de Adam Smith, nas duas últimas décadas do século XVIII, se fez ciência, nasceu com o propósito de explicar o “progresso das nações”. Isso pode ser considerado um avanço à época, pois superava lar-gamente a idéia mercantilista - que se consolidou a partir do período histórico da Revolução Comercial (séculos XVI – XVII-I) - de que o acúmulo de metais preciosos era a finalidade ím-par, e a condição sine qua non, para se tornar forte e dinâmico; tudo isso, é claro, movido por algo “nobre”: a ação individual das pessoas. Era o individualismo correndo na busca pelo dinheiro; portanto, pelo “progresso”.
Desse modo, com Smith e os demais clássicos ingleses, o indi-vidualismo ganhou referência ímpar em termos de análise e-conômica. Isso serviu de base ao liberalismo econômico clás-sico; afinal, “os homens são por naturezas egoístas, motivados apenas por interesses próprios” dizia Dudley North.
Pois bem. Tomando por base essas primeiras lições econômi-cas, três idéias puderam ser afloradas: 1. É necessário acumu-lar; 2. É preciso ser individualista; 3. Que se dane o resto.
Ora, tais pressupostos, decorridos mais de 230 anos, infeliz-mente se petrificaram a ponto de se converter em paradigma. No entanto, é preciso mudar essa história. Deus nos criou para amarmos as pessoas e utilizarmos as coisas. Todavia, por conta desses pressupostos, estamos também invertendo isso e amando as coisas e utilizando as pessoas.
Mas, algo precisa ser feito. Sugestão: a ciência econômica, “manipulada” pelos homens de bem, precisa encontrar alter-nativas nas políticas públicas para promover melhorias na vi-da das pessoas que participam da atividade econômica, ora produzindo, ora consumindo, trocando mercadorias, gastando seus recursos ou mesmo poupando-os. Isso é economia! Em outras palavras, a economia precisa funcionar para o bem maior, ainda que seja necessário algumas vezes remar contra a maré. Só faz sentido se pensar em Economia (enquanto ci-ência/conhecimento/atividade) quando “acoplamos” nas di-versas variáveis econômicas a figura primordial do indivíduo, até mesmo porque toda a atividade produtiva gira em torno de quem? Gira em torno desse indivíduo que responde à eco-nomia com seus desejos e necessidades, indispensáveis à sua sobrevivência.
Na verdade, não importa saber se a economia (enquanto ati-vidade) vai bem ou vai mal; o que realmente importa saber é quem (eu, você, nós) vai bem e quem (ele, ela, todos nós) vai mal na economia. Esse quem se refere às pessoas; somos todos nós, participantes da economia, ainda que, pela regulação econômica atual, cujo predomínio é dado pelas grandes cor-porações detentoras de capital, em que prevalecem apenas as exorbitantes taxas de lucros, nós, os participantes da vida e-conômica, sejamos colocados como meros coadjuvantes, e não como as personagens principais desse enredo.
Há problemas diversos a serem superados? Há dificuldades por vezes que se apresentam intransponíveis? Há limites im-postos pelas leis da natureza? Há escassez a serem dribladas, principalmente quando essas são “criadas” adredemente para que os preços subam? Para cada uma dessas indagações, a resposta é SIM.
Conquanto, há ainda algo muito mais importante a ser feito: é a necessidade de se consolidar em cada um de nós o senti-mento plausível da construção de outra economia. Que outra economia? Essa outra economia é possível e alcançável? Sim. Essa outra economia que aqui faço alusão é humana, é social, é equilibrada ecologicamente. Essa outra economia é justa e participativa, é solidária e fraternal, é coletiva, e não individu-al, apesar dos manuais acadêmicos recomendarem a prática sistemática do individualismo como dissemos anteriormente.
Essa outra economia passa pela solidariedade e aponta dedo em riste para o lado social como porta de entrada para um mundo melhor, sempre esperando que os novos modelos eco-nômicos de crescimento englobem o indivíduo como ponto focal em suas análises.
A economia não é somente o mercado e as mercadorias. A e-conomia não são somente as taxas, os índices, os indicadores, os lucros, os grandes conglomerados, as finanças, os números e os gráficos que compõem o universo de análise técnico-acadêmica. A economia é o indivíduo que trabalha, que pro-duz, que negocia, que vive, que carece de ajuda, que sonha com um amanhã melhor.
A outra economia que, creio, todos queremos, é a economia do crescimento com qualidade, com equilíbrio, com justiça social. É a economia que soma e inclui; não aquela que divide e exclui e, por isso, se torna desigual, acumulando injustiças sociais, indo muito mal. A economia que queremos não é aquela que torna a “sociedade malvada” nas sábias palavras do professor Paulo Freire (1921-97). A economia que todos queremos é dinâmica e expansiva e, por isso (e também para isso), capaz de “construir um mundo onde todos ganhem”, nas palavras da economista Hazel Henderson.
A economia que queremos deve se pôr à serviço das pessoas, e não esperar que as pessoas se coloquem à serviço dessa e-conomia. A economia que ansiamos reconhece o papel das pessoas e respeita os limites da biosfera ao não propor, por exemplo, um crescimento a qualquer preço, sem regras esta-belecidas. A economia que queremos ver praticada em nossa sociedade propõe trocar o atual modelo de crescimento (ex-presso em quantidade) por um modelo de desenvolvimento (expresso em qualidade), até mesmo porque, em momento algum, quantidade significou qualidade. Quantidade satisfaz apenas a ganância e a mesquinhez consumista; enquanto qua-lidade satisfaz o espírito e enobrece as relações humanas.
A outra economia que esperamos ver em breve nos próximos tempos se preocupa com a felicidade das pessoas, busca o bem estar comum. A outra economia que sonhamos, por fim, sabe de seus limites e se reconhece como apenas um meio, pois compreende firmemente que se há um final, esse certamente é a vida de cada um. E que essa vida seja economicamente melhor para todos – e por todos - com bem-estar e com capacidade de sempre se renovar para continuar sua evolução, com limites, com respeito, com organização democrática, com a participação coletiva.
A ciência econômica nasceu para isso. Disso não tenhamos dúvida. A Economia – ciência - nasceu para apontar alternati-vas na construção de um mundo melhor, para propor cami-nhos que levam cada um de nós a escolher as melhores deci-sões, maximizando nossos desejos e esperando que o coletivo se fortaleça, pois não há progresso verdadeiro quando o pró-ximo passa fome.
A economia se fez ciência definitivamente para junto às outras ciências definir soluções responsáveis em matéria de boa governança na aplicação do dinheiro público, visto que a “ali-mentação” dos cofres públicos sai do bolso do contribuinte.
A ciência econômica nasceu, sobretudo, para promover a de-mocracia econômica e, a partir do resgate da valorização das ações coletivas promover algo mais: a libertação de cada um de nós e do todo.
Para tanto, é necessário que estejamos adaptados e prepara-dos para essas mudanças. Quanto a isso, não tenhamos dúvi-das que a economia muda, em geral, mais rapidamente do que a nossa capacidade de organizá-la. Por isso, entender a eco-nomia e seus meandros (macro e microeconômicos) são fun-damentais para a realização dessa mudança.

Definitivamente, a ciência econômica precisa se firmar ado-tando uma postura em favor da natureza (crescer sem destru-ir) e da vida (eliminar a exclusão e priorizar o indivíduo). Pa-ra tanto, é imprescindível condenar o individualismo que rei-na às soltas nas noções iniciais de economia e incorporar, em seu lugar, os princípios da economia solidária pautadas na co-operação. Por fim, as técnicas econômicas precisam ser rede-senhadas pondo os meandros da macroeconomia à serviço de um bem maior: a vida; afinal, cabe reiterar, o fim é a vida, e, o meio, pode ser a ciência econômica.
(*) Professor de economia da FAC-FITO e do UNIFEIO (São Paulo) - Autor dos livros “Conversando sobre Economia”, “Pensando como um Economista” e “Provocações Econômicas” (no prelo).
Os artigos desse autor em torno de questões econômicas têm sido amplamente publicados no Brasil e no exterior, com des-taque em Portugal, Cabo Verde, Timor Leste e Angola, além do jornal PRAVDA (Rússia). Contato:
prof.marcuseduardo@bol.com.br;

A Economia e a Vida

A Economia e a Vida
Marcus Eduardo de Oliveira (*)

Talvez o maior erro do sistema capitalista seja o fato de ter baseado a vida econômica na acumulação de capital, identifi-cando isso como sinônimo de progresso.
Nesse sentido, acumular significa, grosso modo, enfatizar o “ter”, em detrimento do “ser”. Essa é a característica emble-mática de um sistema que se assenta sobre todo e qualquer modo para se atingir essa finalidade; razão pela qual a explo-ração, em toda sua plenitude, é largamente observada na ma-neira e nos modos como esse sistema opera.
Pois bem. Ao ler o ensaísta equatoriano Eduardo Mora-Anda (A História dos Ideais), que faz consistente crítica sobre a ma-neira de proceder desse sistema, verificamos que “o capita-lismo supõe que o dinheiro é fértil e deve produzir lucros, o que é mentira, porque o dinheiro, de per si, sem trabalho, não produz nada”.
No entanto, a ciência econômica, à lá mercantilização capita-lista da vida, insiste em inverter essa situação e apregoar den-tro dos mecanismos que comandam o mercado, que dinheiro gera dinheiro, que dinheiro trás felicidade.
Conquanto, quando a economia pelas mãos de Adam Smith, nas duas últimas décadas do século XVIII, se fez ciência, nasceu com o propósito de explicar o “progresso das nações”. Isso pode ser considerado um avanço à época, pois superava lar-gamente a idéia mercantilista - que se consolidou a partir do período histórico da Revolução Comercial (séculos XVI – XVII-I) - de que o acúmulo de metais preciosos era a finalidade ím-par, e a condição sine qua non, para se tornar forte e dinâmico; tudo isso, é claro, movido por algo “nobre”: a ação individual das pessoas. Era o individualismo correndo na busca pelo dinheiro; portanto, pelo “progresso”.
Desse modo, com Smith e os demais clássicos ingleses, o indi-vidualismo ganhou referência ímpar em termos de análise e-conômica. Isso serviu de base ao liberalismo econômico clás-sico; afinal, “os homens são por naturezas egoístas, motivados apenas por interesses próprios” dizia Dudley North.
Pois bem. Tomando por base essas primeiras lições econômi-cas, três idéias puderam ser afloradas: 1. É necessário acumu-lar; 2. É preciso ser individualista; 3. Que se dane o resto.
Ora, tais pressupostos, decorridos mais de 230 anos, infeliz-mente se petrificaram a ponto de se converter em paradigma. No entanto, é preciso mudar essa história. Deus nos criou para amarmos as pessoas e utilizarmos as coisas. Todavia, por conta desses pressupostos, estamos também invertendo isso e amando as coisas e utilizando as pessoas.
Mas, algo precisa ser feito. Sugestão: a ciência econômica, “manipulada” pelos homens de bem, precisa encontrar alter-nativas nas políticas públicas para promover melhorias na vi-da das pessoas que participam da atividade econômica, ora produzindo, ora consumindo, trocando mercadorias, gastando seus recursos ou mesmo poupando-os. Isso é economia! Em outras palavras, a economia precisa funcionar para o bem maior, ainda que seja necessário algumas vezes remar contra a maré. Só faz sentido se pensar em Economia (enquanto ci-ência/conhecimento/atividade) quando “acoplamos” nas di-versas variáveis econômicas a figura primordial do indivíduo, até mesmo porque toda a atividade produtiva gira em torno de quem? Gira em torno desse indivíduo que responde à eco-nomia com seus desejos e necessidades, indispensáveis à sua sobrevivência.
Na verdade, não importa saber se a economia (enquanto ati-vidade) vai bem ou vai mal; o que realmente importa saber é quem (eu, você, nós) vai bem e quem (ele, ela, todos nós) vai mal na economia. Esse quem se refere às pessoas; somos todos nós, participantes da economia, ainda que, pela regulação econômica atual, cujo predomínio é dado pelas grandes cor-porações detentoras de capital, em que prevalecem apenas as exorbitantes taxas de lucros, nós, os participantes da vida e-conômica, sejamos colocados como meros coadjuvantes, e não como as personagens principais desse enredo.
Há problemas diversos a serem superados? Há dificuldades por vezes que se apresentam intransponíveis? Há limites im-postos pelas leis da natureza? Há escassez a serem dribladas, principalmente quando essas são “criadas” adredemente para que os preços subam? Para cada uma dessas indagações, a resposta é SIM.
Conquanto, há ainda algo muito mais importante a ser feito: é a necessidade de se consolidar em cada um de nós o senti-mento plausível da construção de outra economia. Que outra economia? Essa outra economia é possível e alcançável? Sim. Essa outra economia que aqui faço alusão é humana, é social, é equilibrada ecologicamente. Essa outra economia é justa e participativa, é solidária e fraternal, é coletiva, e não individu-al, apesar dos manuais acadêmicos recomendarem a prática sistemática do individualismo como dissemos anteriormente.
Essa outra economia passa pela solidariedade e aponta dedo em riste para o lado social como porta de entrada para um mundo melhor, sempre esperando que os novos modelos eco-nômicos de crescimento englobem o indivíduo como ponto focal em suas análises.
A economia não é somente o mercado e as mercadorias. A e-conomia não são somente as taxas, os índices, os indicadores, os lucros, os grandes conglomerados, as finanças, os números e os gráficos que compõem o universo de análise técnico-acadêmica. A economia é o indivíduo que trabalha, que pro-duz, que negocia, que vive, que carece de ajuda, que sonha com um amanhã melhor.
A outra economia que, creio, todos queremos, é a economia do crescimento com qualidade, com equilíbrio, com justiça social. É a economia que soma e inclui; não aquela que divide e exclui e, por isso, se torna desigual, acumulando injustiças sociais, indo muito mal. A economia que queremos não é aquela que torna a “sociedade malvada” nas sábias palavras do professor Paulo Freire (1921-97). A economia que todos queremos é dinâmica e expansiva e, por isso (e também para isso), capaz de “construir um mundo onde todos ganhem”, nas palavras da economista Hazel Henderson.
A economia que queremos deve se pôr à serviço das pessoas, e não esperar que as pessoas se coloquem à serviço dessa e-conomia. A economia que ansiamos reconhece o papel das pessoas e respeita os limites da biosfera ao não propor, por exemplo, um crescimento a qualquer preço, sem regras esta-belecidas. A economia que queremos ver praticada em nossa sociedade propõe trocar o atual modelo de crescimento (ex-presso em quantidade) por um modelo de desenvolvimento (expresso em qualidade), até mesmo porque, em momento algum, quantidade significou qualidade. Quantidade satisfaz apenas a ganância e a mesquinhez consumista; enquanto qua-lidade satisfaz o espírito e enobrece as relações humanas.
A outra economia que esperamos ver em breve nos próximos tempos se preocupa com a felicidade das pessoas, busca o bem estar comum. A outra economia que sonhamos, por fim, sabe de seus limites e se reconhece como apenas um meio, pois compreende firmemente que se há um final, esse certamente é a vida de cada um. E que essa vida seja economicamente melhor para todos – e por todos - com bem-estar e com capacidade de sempre se renovar para continuar sua evolução, com limites, com respeito, com organização democrática, com a participação coletiva.
A ciência econômica nasceu para isso. Disso não tenhamos dúvida. A Economia – ciência - nasceu para apontar alternati-vas na construção de um mundo melhor, para propor cami-nhos que levam cada um de nós a escolher as melhores deci-sões, maximizando nossos desejos e esperando que o coletivo se fortaleça, pois não há progresso verdadeiro quando o pró-ximo passa fome.
A economia se fez ciência definitivamente para junto às outras ciências definir soluções responsáveis em matéria de boa governança na aplicação do dinheiro público, visto que a “ali-mentação” dos cofres públicos sai do bolso do contribuinte.
A ciência econômica nasceu, sobretudo, para promover a de-mocracia econômica e, a partir do resgate da valorização das ações coletivas promover algo mais: a libertação de cada um de nós e do todo.
Para tanto, é necessário que estejamos adaptados e prepara-dos para essas mudanças. Quanto a isso, não tenhamos dúvi-das que a economia muda, em geral, mais rapidamente do que a nossa capacidade de organizá-la. Por isso, entender a eco-nomia e seus meandros (macro e microeconômicos) são fun-damentais para a realização dessa mudança.

Definitivamente, a ciência econômica precisa se firmar ado-tando uma postura em favor da natureza (crescer sem destru-ir) e da vida (eliminar a exclusão e priorizar o indivíduo). Pa-ra tanto, é imprescindível condenar o individualismo que rei-na às soltas nas noções iniciais de economia e incorporar, em seu lugar, os princípios da economia solidária pautadas na co-operação. Por fim, as técnicas econômicas precisam ser rede-senhadas pondo os meandros da macroeconomia à serviço de um bem maior: a vida; afinal, cabe reiterar, o fim é a vida, e, o meio, pode ser a ciência econômica.
(*) Professor de economia da FAC-FITO e do UNIFEIO (São Paulo) - Autor dos livros “Conversando sobre Economia”, “Pensando como um Economista” e “Provocações Econômicas” (no prelo).
Os artigos desse autor em torno de questões econômicas têm sido amplamente publicados no Brasil e no exterior, com des-taque em Portugal, Cabo Verde, Timor Leste e Angola, além do jornal PRAVDA (Rússia). Contato:
prof.marcuseduardo@bol.com.br;



sábado, 19 de junho de 2010

VOAR - Leonardo Boff

VOAR - Leonardo Boff

Passamos uma vida presos, qual pássaros em suas gaiolas! Medo de amar, de olhar a vida de frente... E naquele pequeno espaço, cantamos nossas dores e sonhos! Muitas vezes, as portas de nos-sas gaiolas se abrem... Mas permanecemos ali, acostumados, en-colhidos as nossas vontades e sonhos!

Não tenham dúvidas amigos, à primeira oportunidade, devem alçar o vôo das águias, calmo, confiante, determinado! Amem sem medo, brinquem um pouco com a vida!

Não tenham medo dos rochedos e sobre eles, estendam a suas asas corajosas de águia! Soltem-se ao vento, e deixem-no, levá-los ao sonho! Como a águia, tente enxergar as pequeninas coisas a sua volta e saber apreciá-las, dando um sentido novo a sua vi-da! Não sejam passarinhos de gaiola, mas, águias do céu!

A cada dia existe uma renovação constante, e nunca um será como o outro... Não há dores eternas, lágrimas eternas, perdas eternas! Há sorrisos, esperando-lhes, dias de sol, o abraço dos amigos, dos filhos e tantos sonhos lindos!

Um amor lhes espera, para com vocês, voar, voar... Porque a vida é um recomeçar diário de um vôo! E gaiolas não foram feitas pa-ra os pássaros...

Tão pouco para as ÁGUIAS !
Recebido do amigo, Fábio Oliveira
Postado na Rede pelo Professor João Beserra da Silva
professorbeserra@yahoo.com.br