sábado, 6 de fevereiro de 2010

A Grande Lição de Uma Criança


A Grande Lição de Uma Criança


Quando de nossa passagem pela Índia, foi-nos dado ensejo de enriquecimento grandioso. Lá a cada instante se está aprendendo, crescendo e instruindo-se. Os nossos conhecimentos foram bastante enriquecidos em outros países, mas na Índia tivemos ocasião de aumentar ainda mais a nossa cultura.

Certa feita, como responsável por uma excursão voltada à pesquisa dos poderes interiores, chegando à cidade de Agra para visitar o Taj Mahal , adquirimos grandes lições com um garoto de apenas oito anos.

É sabido que a maior parte da população daquele país é demasiado pobre. Em sua grande maioria, vive do turismo. Em qualquer lugar que se vá, há multidões oferecendo as suas lembranças. Acorrem afoitos à chegada de cada veículo, com esse intuito.
Aconteceu assim conosco. Ao descermos do microônibus que nos levou àquele monumento, achegou-se de nós um menino, em língua estranha, apresentando os seus produtos: cartões postais e outros congêneres. Afirmamos-lhe em inglês: depois!
- Estarei aqui esperando pelo senhor! - Respondeu-nos com amplo sorriso, em inglês fluente.
Os veículos são obrigados a ficar estacionados a mais de um quilômetro do grande mausoléu, como medida de precaução contra terroristas. No caminho até aquele local, outros tantos vendedores acompanham o turista com a finalidade de vender os seus materiais.
A nossa visita que estava programada para ser de apenas duas horas, prolongou-se por toda a tarde. É majestoso aquele lugar, mais ainda em função da mudança cromática que o sol proporciona quando esparge os seus raios no secular túmulo, ao entardecer. A variação de cor é fantástica. É inenarrável o que se presencia. É, com certeza, um dos mais belos espetáculos da Terra, tanto é que está na relação das principais maravilhas deste globo. Garante-se acolá que, quem foi à Índia e deixou de visitar Agra, não passou por lá.

Já ao anoitecer, voltando para o nosso veículo, por todo o percurso, os vendedores insistiam para que ficássemos com os seus artigos. Evidentemente, compramos muito de tudo aquilo. Ao nos aproximarmos do ônibus, lá estava sentado no estribo o garoto que horas antes foi o primeiro a abordar o nosso grupo.
Quando nos viu chegar com as sacolas e os braços ocupados com produtos semelhantes aos que havia nos oferecido, abordou-nos com firmeza, olhando nos nossos olhos:
- O senhor garantiu-me que compraria de mim, na volta!

Em verdade, como agimos aqui no Oci-dente, queríamos apenas nos livrar do garoto. Nada havia de comprometimento no que lhe disséramos. Sentimo-nos, entretanto, naquele momento o pior dos homens, sem palavra, como se fosse um verme a rastejar. Uma criança proporcionava-nos a grande lição. Um menino que carecia vender cartões postais para comer, mexia com a nossa consciência.
Ali, sentimos o toque íntimo que nos advertia para que jamais enganássemos alguém. Ou pelo menos evitássemos faltar com a verdade. Aquela era uma mentira sem prejuízo para alguém, mas tirou de um garoto as possibilidades de levar para casa o sustento, quem sabe, da própria família.
Estávamos refazendo-nos do choque recebido, quando o garoto, de forma fantástica e mais dolorosa ainda, confere-nos o golpe de misericórdia, esmagando-nos como se barata fôssemos, sob os seus pés:

- Nós aqui na Índia temos palavra!

Olhamos para o nosso grupo que a tudo assistia e declaramos às pessoas que o compunham:
- Compremos o que este menino tem para vender, pois realmente, prometemos que o faríamos na volta.
Ainda tivemos tempo e ensejo de manter diálogo com aquela criatura e soubemos que, aos oito anos, já falava cinco línguas. Conversou conosco até mesmo em castelhano. Esse fato aconteceu em 1988, e de lá para cá tem sido lição constante na maior parte de nossas palestras por este Brasil - continente.

Esta estória poderia estar em qualquer lugar e marcá-lo(a)-ia com a mesma força. Mas aqui fica, exatamente para reafirmar-lhe quantas lembranças enriquecedoras guardamos daquela conversa, das aulas que aquele menino ministrou-nos, sem saber que agia como mestre.

Viajar é cultura, mas também é descoberta pessoal, pelos exemplos recebidos. Jamais nos esqueceremos daquela criança que nos autorizou a chamá-la de “Pablito”, enquanto conversava conosco em espanhol.


Professor João Beserra da Silva
11/ 98464-5220 – 96435-0934

professorbeserra@yahoo.com.br

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